[Entrevista] Vitor Cafaggi

Escrito por Miaka Freitas - segunda-feira, março 24, 2014



Autor de Valente, lançado atualmente pela Panini. Autor de Duotone, de lançamento independente e autor das tirinhas online de Puny Parker, que conta a infância de Peter Parker (o homem aranha), tenho o prazer de anunciar o mais um de nossos convidados nessa Maratona do Quadrinho Nacional: Vitor Cafaggi, que nos concedeu uma bela entrevista!! 


Um Sofá: É uma honra tê-lo como convidado aqui no Um Sofá. Obrigada por nos conceder um pouquinho do seu tempo para essa entrevista.

Vitor Cafaggi: É um prazer.


Um Sofá: Como decidiu ser quadrinista? Sabemos que no Brasil ainda é um sonho de muitos alçar uma carreira dessas e ainda não se tem todo aquele incentivo de publico e por parte de editoras para o autor nacional (tanto que se pode contar nos dedos os poucos nomes que fazem sucesso com suas publicações).

Vitor Cafaggi: Sempre quis fazer quadrinhos. Era o que eu mais queria quando era criança e até uns 20 anos. Depois da faculdade deixei de lado um pouco o sonho pra tentar realizar um trabalho de gente grande, mais estável. Trabalhei como designer gráfico por um tempo, tive minha própria empresa, depois fui diretor de arte em uma grande empresa. Mas, depois de um tempo, já com uns 27 anos, voltei a sentir essa vontade fazer meus próprios quadrinhos. Eu li histórias em quadrinhos a vida inteira, acho que era natural que, uma hora, eu quisesse contar minhas próprias histórias.


Um Sofá: Cada desenhista tem um traço, que é sua marca registrada. Demorou muito para você adquirir o traço que possui agora? Como foi para encontrar seu traço?

Vitor Cafaggi: Não sei definir meu traço. Não é um estilo específico, sabe? Ele é uma mistura do que eu sou, de tudo que eu gosto e até do que as pessoas enxergam nele. Sobre artistas, os trabalhos dos Bill Watterson e do Charles Schulz são, com certeza, minhas grandes influências. Considero as histórias do Calvin como a melhor coisa já feita em quadrinhos. E Peanuts é a base de tudo. Mais recentemente, me inspira bastante os trabalhos de Jeff Smith, Bruce Timm, Skottie Young, Sonny Liew, Juanjo Guarnido e Kyle Baker.


Um Sofá: Eu nem fazia ideia que você tinha outras obras além de “Valente” e a participação na MSP com a Graphic Novel “Laços”, até que encontrei “Duotone”. Da onde surgiu a obra “Duotone”? Como surgiu esse nome? O que essa obra significa para você?

Vitor Cafaggi: As ideias das duas histórias de Duotone surgiram a partir de imagens que eu imaginei e depois desenhei em meu caderno de rascunhos. Primeiro, me veio à cabeça a cena de um garotinho, usando capa, de frente para a cidade, de costas para o leitor, como se ele estivesse no alto de um prédio e pensasse "essa é a minha cidade, o meu lugar". A ideia da segunda historia veio quando desenhei um garotinho de casaco caminhando e olhando para o lado, como se algo no chão chamasse sua atenção. Segundos depois desenhei um robô bem na direção do olhar dele. Juntei as duas historias em uma revista, justamente por elas serem tão diferentes, mas com alguma coisa em comum. São dois tons. É como se a primeira historia fosse a refeição completa e a segunda, a sobremesa.



Um Sofá:Como surgiu a ideia de fazer tirinhas inspiradas na infância de Peter Parker?

Vitor Cafaggi: Não sei exatamente de onde surgiu a idéia do Puny Parker. Não houve um momento específico que eu me lembre como sendo o da criação dele. O Puny é uma mistura de tudo o que eu gostava na minha infância nos anos 80. Eu lia as revistas do Homem-Aranha, as tirinhas do Calvin,assistia o desenho do Charlie Brown na TV, ia ao cinema para ver De Volta para o Futuro, Os Goonies e os filmes do Stallone.. acho que a idéia não surgiu.. ela sempre esteve aqui comigo.


Um Sofá: Ainda falando em “Puny Parker”, porque as temporadas acabaram? Em uma busca rápida no facebook até existe uma fanpage com o nome “Volta Puny Parker”, é possível que algum dia esses fãs podem voltar a ver novas tirinhas? Ainda podemos ter esperança?

Vitor Cafaggi: Quando comecei a fazer as tiras semanais do Puny meu objetivo principal era me condicionar a desenhar sempre. Para, assim, melhorar meu traço e minha narrativa e um dia fazer um trabalho digno de apresentar para as editoras. Comecei colocando as tirinhas no meu álbum de fotos do Orkut e avisei aos amigos que ia fazer uma tirinha nova toda semana. Dessa forma eu meio que me obriguei a manter essa produção semanal de tirinhas. Meus amigos mostravam as tirinhas para os amigos deles e, com o tempo, mais gente foi conhecendo o personagem. Muita gente me pedia pra fazer as tirinhas em português e, por isso, criei o blog. Foi uma tirinha que eu criei pra mim, pras pessoas parecidas comigo. A ideia era fazer umas vinte tiras. Mais ou menos na metade da segunda temporada, quando já tinha feito mais de oitenta tiras, percebi que tinha uma história pra contar ali no meio daquilo tudo. E foi nessa época que visualizei o final da série. Acho bem difícil ele voltar. Só se a Marvel me pedir pra fazer isso. 


Um Sofá: Notei que o pequeno Parker e Valente se parecem muito na personalidade (ou foi só impressão minha). Foi proposital essa semelhança? Valente e o pequeno Parker podem ser também considerados biográficos?

Vitor Cafaggi: Sim, os dois têm muito de mim. O Puny meio que representa a infância. Já o Valente é a adolescência.


Um Sofá: Falando agora sobre “Valente”, você esperava que o titulo fosse fazer tanto sucesso?

Vitor Cafaggi: Não tinha pensado nisso. Faço as tirinhas do Valente pensando em mim, em um tipo de HQ que eu gostaria de ler, mas ainda não li. Faço essas tirinhas pra me divertir. Não imaginava que tanta gente ia se identificar com elas.


Um Sofá: Como foi encontrar uma editora para publicar “Valente”? Você tentou várias até obter sucesso ou lhe procuraram com interesse em seu titulo?

 
Vitor Cafaggi: Na verdade, foi a Panini que chegou com uma proposta para publicar Valente. Nunca tinha procurado uma editora. A conversa com a Panini começou em 2012, durante o FestComix, em São Paulo, enquanto eu lançava o segundo volume, Valente Para Todas. Nessa primeira conversa, a editora demonstrou interesse em lançar tanto o Valente, quanto o Puny Parker. Ao longo de 2013, continuamos conversando sobre essas duas possibilidades. A Panini continua tentando viabilizar a publicação do Puny Parker com a autorização da Marvel, o que seria o máximo. Pouco antes do FIQ, mais uma vez em uma decisão bem em cima da hora, fechamos essa parceria em relação ao Valente. Pra mim, está sendo ótimo porque as revistas com a Panini chegaram a lugares que eu, como independente não consigo chegar. Elas chegaram em bancas há algumas semanas. Outro ponto positivo é que não preciso mais me preocupar com a distribuição, com o controle das vendas e o envio das revistas, sobrando mais tempo pra escrever e desenhar. Somente durante os meses de junho, julho e agosto desse ano, vendi e mandei mais de 600 revistas pelo correio. Isso toma muito tempo. Fora que produzir uma série de quadrinhos de forma independente vai ficando cada vez mais difícil à medida que a série vai crescendo. Por exemplo, pra cada volume novo do Valente que sai, é importante que eu tenha os volumes anteriores disponíveis à venda. Porque acaba que o lançamento da edição mais nova, puxa o interesse dos leitores para os volumes anteriores. Nesse FIQ, se eu quisesse fazer uma nova tiragem dos esgotados Valente #1 e Valente #2 pra acompanhar o lançamento do terceiro, eu ia precisar de, no mínimo, R$14.000,00 pra impressão. Aí já começa a ficar cara essa produção. Já teria que procurar outros meios, como crowdfunding, pra viabilizar isso. Publicar um quadrinho independente, investir cinco ou seis mil reais pra fazer uma tiragem de mil ou de dois mil exemplares é uma coisa, fazer isso com uma série já é bem mais complicado. Espero muito que continue dando tudo certo com a Panini.


Um Sofá: Já tem planos para algum novo titulo? Quais os planos futuros para a carreira?

Vitor Cafaggi: Planos eu tenho. Tempo pra fazer isso, não agora. Mas tem muita coisa pra acontecer nos próximos anos.


Um Sofá: Antes de finalizar, quando vai sair o volume 4 de Valente? Estou ansiosa (risos)!

Vitor Cafaggi: O quarto livro do Valente sai em agosto.


Um Sofá: Muito obrigada por essa entrevista. Agora finalizando, gosto sempre de perguntar se quer deixar um recado para todos os leitores do Um Sofá, que almejam seguir a carreira no Brasil e para os fãs das suas publicações.

Vitor Cafaggi: Um abraço pra todo mundo. Independente do que você quiser ser da vida, corre atrás. Vale muito a pena.


Foi realmente um prazer poder fazer essa entrevista com Vitor Cafaggi e conhecer esse autor e desenhista que tanto admiro. Com toda a certeza, muitos outros admiram e são fãs de seu trabalho. Continue sempre assim! 

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